quinta-feira, 22 de novembro de 2012

memória

- Em casas velhas há quartos que as pessoas esqueceram, sabem vocês? - perguntava o meu pai. - Abandonados há meses vão fenecendo entre paredes e chegam a fechar-se sobre si próprios, a cobrir-se de tijolos e a perder aos poucos a vida, uma vez que irremediavelmente perdidos para a nossa memória. As portas que os servem abrem-se ao patamar de uma escura escada de serviço e durante tanto tempo podem escapar à observação dos habitantes, que se enfiam dentro das paredes e vão apagar aí os seus vestígios, confundidas numa rede de fendas e fissuras. 

Bruno SchulzAs Lojas de Canela, Assírio & Alvim, 1987.

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