Submete-te à prova da humanidade.
Ela faz duvidar os que duvidam e faz
acreditar os que acreditam.
Franz Kafka, Meditações.
A cidade e os olhos
É o humor de quem a olha que dá à
cidade de Zemrude a sua forma. Se passarmos por ela a assobiar, de
nariz no ar atrás do assobio, conhecê-la-emos de baixo para cima:
sacadas, tendas a ondular, repuxos. Se caminharmos através dela de
queixo contra o peito, com as unhas espetadas nas palmas das mãos,
os nossos olhares prender-se-ão ao chão, aos regos de água, aos
esgotos, às tripas de peixe, ao papel velho. Não se pode dizer que
um aspecto da cidade seja mais verdadeiro que o outro, mas da Zemrude
de cima ouve-se falar sobretudo a quem se lembra dela afundando-se na
Zemrude de baixo, percorrendo todos os dias os mesmos caminhos e
reencontrando de manhã o mau humor da véspera incrustrado nas
paredes. Para todos mais tarde ou mais cedo chega o dia em que
baixaremos os olhos ao longo dos canos dos algerozes e já não
conseguiremos afastá-los da calçada. Não está excluído o caso
inverso, mas é mais raro: por isso continuamos a andar pelas ruas de
Zemrude com os olhos que agora já escavam por baixo das caves, dos
alicerces, dos poços.
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis.
Bela combinação.
ResponderEliminarDe belas sugestões, belas combinações.
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