segunda-feira, 25 de maio de 2009

elegia

dois pardais
passam às vezes perdidos
sobre o meu ombro
do lado esquerdo.
asseguram-me
de que venho para os lados do norte
isto apesar de serem negros
os meus olhos.
se me pedires
com a minha mão direita
eu junto uma manada de peixes
para com eles coser uma jangada
que te leve de volta ao sul.
se me pedires
eu castro a minha mão direita
para te poder acenar
e escrevo uma elegia aos teus dedos
com a minha mão esquerda.

quando eu me demorar na pândega
com a sórdida vizinhança lá de baixo
não confundas o quadrante direito do relógio
com a prodigiosa paisagem dos pombos da vizinhança.

então não duvides que tudo isto são só palavras
e enterra no peito uma pedra profunda.

isso: faz da minha única verdadeira pátria
um pasto pétreo.

isso: faz do meu nome um plácido porto
de esquecimento.

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