Dizer trevas
Como Orfeu, toco
a morte nas cordas da vida
e à beleza do mundo
e dos teus olhos que regem o céu
só sei dizer trevas.
Não te esqueças que também tu, subitamente,
naquela manhã, quando o teu leito
estava ainda húmido de orvalho e o cravo
dormia no teu coração,
viste o rio negro
passar por ti.
Com a corda do silêncio
tensa sobre a onda de sangue,
dedilhei o teu coração vibrante.
A tua madeixa transformou-se
na cabeleira de sombras da noite,
os flocos negros da escuridão
nevavam sobre o teu rosto.
E eu não te pertenço.
Ambos nos lamentamos agora.
Mas como Orfeu, sei
a vida ao lado da morte,
e revejo-me no azul
dos teus olhos fechados para sempre.
Ingeborg Bachmann, O tempo aprazado, Poemas (1953 - 1967), selecção, trad. e intro. João Barrento e Judite Berkemeier, Assirio & Alvim, 1992.
Outra versão do mesmo: http://trabalharcansa09.blogspot.pt/2009/10/darkness-spoken.html
ResponderEliminarEste também anda por aí traduzido? http://trabalharcansa09.blogspot.pt/2009/11/for-ce.html
(Já não me lembro e agora já não posso ver)
Pois, eu vim ver quando me disseste que tens a obra completa e passei para aqui porque gostei da tradução (seria de esperar). Também gosto desse, mas não está neste livro, só este http://www.trabalharcansa09.blogspot.pt/2009/11/after-many-years.html. Tem poucos, é pena.
ResponderEliminarSão baratos os collected. E já agora isto: http://www.amazon.co.uk/gp/product/1906497443/ref=ox_sc_act_title_3?ie=UTF8&m=A3P5ROKL5A1OLE
ResponderEliminarEra uma boa ideia, gosto de ler correspondência (uma certa veia de cusca), mas queria primeiro comprar a do Scholem e do Benjamin, pensávamos que estava mais barato em Inglês, mas estive a ver e não.
ResponderEliminarA do Scholem com o Benjamin interessa-me, mas esta é-me mais cara (no pun intended): http://www.amazon.co.uk/Correspondencia-1933-1973-Gershom-Scholem/dp/8481919969/ref=sr_1_4?ie=UTF8&qid=1333901645&sr=8-4
ResponderEliminarEu li esse, Tatiana, do Strauss e do Scholem, na biblioteca de Leipzig. Apesar de tudo não sei se te faria saltar a ires buscá-lo. Sendo interessante, toca mais na vida privada do Strauss, não tanto na do Scholem, especialmente as indecisões dele entre Jerusalém e os Estados Unidos; dito isto, as discussões teóricas propriamente ditas, apesar de não abundarem, existem. Se entretanto o leres podemos falar sobre ele.
ResponderEliminarMiguel, muito obrigada, quando o ler, recordar-me-ei desta tua nota. Sobre indecisões judaicas entre Jerusalém e os Estados Unidos um amigo contou-me uma anedota que envolvia um escritor famoso (seria Bellow o narrador da anedota ou o envolvido, ou talvez Manea?). Bom, não interessa. Um judeu nova iorquino que tinha estado sempre indeciso entre continuar a viver opulentamente nessa cidade ou partir para Jerusalém para apoiar a fundação do Estado e um judeu de Jerusalém farto de apoiar a causa do Estado que resolve partir para a América, cada um decide partir e encontram-se quando o navio do nova-iorquino está a aportar em Jerusalém e o do Israelita e zarpar e berram em uníssomo: que raio estás a fazer?!!!! well, not that funny. encontramo-nos quarta.
ResponderEliminarMiguel, leste o livro do Scholem sobre o Sabatai Zevi? Tinha alguma curiosidade também sobre isso, por causa do Bashevis Singer.
ResponderEliminarInfelizmente não, Tatiana, não li. Já me tentou várias vezes, mas nunca ao ponto de o mandar vir, portanto nem sequer o alguma vez folheei.
ResponderEliminarLá chegaremos ambos, Miguel...
ResponderEliminarO primeiro livro que li do Scholem foi um opúsculo publicado pela versão soft da Einaudi em Itália, a Piccoa Biblioteca, que encontrei num alfarrabista enquanto fazia Erasmus. Chamava-se "O Nome de Deus e a theoria cabbalística da linguagem." Eu nem sequer sabia quem era este dito Scholem com um nome que fazia lembrar o Golem (antecipei-me ao Steiner no trocadilho). Fiquei vidrado em tudo isto (devia relê-lo), e desde então que me começou a tentar esse dito _magnum opus_, sobre o Sabatai; num livro do Pietro Citati, lindo, que comprei aquando da apresentação da Ítaca naquela livraria Fábrica-não-sei-quê, publicado pela Cotovia sobre a cultura hebraica e arábica, de nome Centelhas de Deus, há também um capítulo dedicado ao dito Sabatai. Dessa mesma série da Piccola Biblioteca tenho agora para ler um livro de estranha premissa: Notas sobre o Ramo de Ouro do Frazer; nada de miro, não fora o livro ter sido escrito pelo Wittgenstein!
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