Fevereiro. Os hectares da memória
estão vazios. O futuro já passou
há anos. Mas agora também o passado.
(Levaste-o contigo). A luz de inverno
torna os factos duros. O mar ofende tudo à volta
O vento estala. O frio é audível.
A língua fica presa, já não sei das palavras.
Congela-se em sílabas fechadas.
Nada. E ver.
O vazio claro, como muito para além da vírgula
nas divisões do número dez.
Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, Nuno Júdice (rev., tradução colectiva), Quetzal Editores, Mateus, 1994.