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sábado, 25 de setembro de 2010

Fevereiro. Os hectares da memória 
estão vazios. O futuro já passou 
há anos. Mas agora também o passado. 
(Levaste-o contigo). A luz de inverno

torna os factos duros. O mar ofende tudo à volta 
O vento estala. O frio é audível. 
A língua fica presa, já não sei das palavras. 
Congela-se em sílabas fechadas.

Nada. E ver. 
O vazio claro, como muito para além da vírgula 
nas divisões do número dez.

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, Nuno Júdice (rev., tradução colectiva), Quetzal Editores, Mateus, 1994.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Port-Cros, tarde
O amor encontrou a partir do nada
uma ilha de pedra-pomes para entrar e sair, um v,
um pequeno porto. Barquinhos posam
ao sabor da maré.
No café toca uma guitarra
durante meia-hora três acordes tristes.
Assim paira a melancolia sobre o mundo
que afinal é demasiado belo.
Assim as linhas telefónicas distribuem a distância.
Cordas telefónicas. Sobre as quais passa o arco
do tempo. Em todo o lado há mais lá
do que cá, canta ele.

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, Nuno Júdice (rev., tradução colectiva), Quetzal Editores, Mateus, 1994.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Futuro

Partir. E voltar.
Sonhar. E não mais sonhar.
E não mais partir.

E verdadeira melancolia, não pelo que aconteceu
mas pelo que nunca chegou a acontecer.
A recordação do que nunca existiu.

Vou acender um charuto
e ainda não, não provo ainda a aguardente,
espero ainda um momento por aquilo que já tenho.

Porque temos o tempo.
Estás dentro de mim como sombra num quarto.
Temos o tempo que passa.

Herman de Coninck, Os Hectares da Memória, Nuno Júdice (rev., tradução colectiva), Quetzal Editores, Mateus, 1994.