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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Como é bem sabido, Ésquilo era comuna

Coro (cantando)

Um tremor apodera-se de mim ao escutar estes votos:

há muito que tarda o destino,

mas talvez venha em resposta a estas preces.


Ésquilo, Coéforas, 463-4


Estas palavras só poderiam ser ditas por um verdadeiro marxista: alguém que sabe que o destino chegará, que é irresistível e inevitável, só está é um bocadinho atrasado. Aliás, o Coro de escravas que verte librações e reza para ressuscitar o seu senhor é uma ritualização mal disfarçada do Avante pós-Cunhal. Mas parece-me algo forçada a posição de alguns críticos (como Goldhill, Vernant e Pitta) de ler no passo uma alusão ao referendo grego e às oportunidades que este representa para uma certa esquerda neo-pericleana. E já que falamos de Ésquilo.

domingo, 25 de setembro de 2011

diz Electra

pois como um lobo de coração selvagem é o ódio
contra a nossa mãe, e não pode ser adulado.

Ésquilo, Coéforas, 421-2

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

a proa do coração

<Coro>

(cantando e dançando)

Possa eu entoar um †pungente†

grito de júbilo pelo homem

derrubado e pela mulher

que morre! Porquê esconder

o que, apesar de tudo, paira 390

diante da minha mente, onde da proa

do meu coração sopra furiosamente uma cólera

aguda, um ódio ressentido?


Ésquilo, Coéforas, vv. 386-393

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Párodo das Coéforas



Orestes e Pílades afastam-se. O coro de mulheres aproxima-se do túmulo de Agamémnon.


Coro:›
(cantando e dançando)
Estr.1
Enviada pela casa eu vim
em procissão trazer libações enquanto a mão rápida feria o corpo:
eis na minha face os arranhões ensanguentados,
..........[sulcos recém talhados pelas minhas unhas 25
(por toda a minha vida se tem alimentado de lamentos o coração),
rasgões destruíram o linho,
dilaceraram ruidosamente os belos tecidos com as dores,
e as dobras das minhas vestes sobre o peito — golpeadas 30
por desgraças sem risos!

Ant.1
Claro, fazendo eriçar os cabelos da casa,
um sonho profético, soprando rancor em vez de sono,
um fundo grito de medo arrancou
..........[do interior da noite nos recessos do palácio, 35
caindo pesado no aposento das mulheres,
e os intérpretes de sonhos
anunciaram, com uma certeza vinda dos deuses,
que os que jazem sob a terra estavam gravemente ofendidos 40
e encolerizados contra os seus assassinos.

Estr.2
Tal é o favor desfavorável para afastar os males —
iô Terra Mãe! — que ela procura ao enviar-me, 45
..........essa mulher ímpia! Mas eu temo deixar cair essas palavras.
Pois que expiação pode haver uma vez derramado o sangue no chão?
Iô, este lar é todo ele desgraça,
iô, a ruína desta casa! 50
Impenetráveis ao sol, odiosas aos homens,
as trevas cobriram a casa
com a morte do senhor.

Ant.2
Outrora inelutável, inconquistável, invencível, o venerável respeito 55
invadia os ouvidos e o coração do povo
..........mas agora anda longe, e há quem tema. A prosperidade
é um deus e mais do que um deus entre os mortais; 60
mas observa-os a Justiça e o prato da balança
de imediato faz pender sobre alguns à luz do dia,
outros na fronteira da escuridão
por longo tempo prosperam {em dores},
a outros alcança-os a noite sem fim. 65

Estr.3
O sangue, quando bebido pela Terra que o nutriu,
coagula-se em vingadora matança, sem se dissolver:
uma inesgotável ruína
..........atormenta o culpado,
..........‹bem como› a enfermidade de infinitos recursos. {Aos que prosperam
alcança-os a noite sem fim.} 70

Ant. 3
Para o que profanou as câmaras nupciais não
há cura, e ainda que todas correntes a um único curso
..........afluíssem para lavar as mãos sujas
..........de um homicídio, correriam em vão.

Epod.
Quanto a mim — pois os deuses impuseram 75
a necessidade sitiadora de cidades, e da casa paterna
trouxeram-me para um destino de escravidão —
justo ou injusto que seja, devo aceitar
o domínio sobre a minha vida em violência ao meu coração
e reprimir este ódio amargo; 80
mas eu choro sob as minhas vestes
pela sorte sem sentido dos meus senhores,
arrepiada com o pranto clandestino.

——————————————

Cá fica um primeiro esboço da minha tradução do párodo (canto que acompanha a entrada do Coro na orquestra, um vasto recinto circular diante do palco) das Coéforas, a segunda tragédia da Oresteia de Ésquilo. A edição usada é a de M.L. West, Teubner, Estugarda, 1991.