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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Conversar

Além disso, eu gostava de Nuto porque nos entendíamos e ele me tratava como amigo. Tinha já aqueles olhos tristes, de gato, e sempre que falava, concluía: «Se me engano, corrige-me». Foi assim que comecei a compreender que não se conversa apenas para dizer «fiz isto», «fiz aquilo», «comi e bebi», mas para exprimir uma ideia, para compreender o mundo. Dantes não tinha pensado nisso.

Cesare Pavese, A Lua e as Fogueiras, Manuel Seabra (trad.), Colecção Mil Folhas, Público, 2002.

Livros

Ele levantava aqueles livros, batia-lhes para tirar o mofo, mas, tendo-os um pouco nas mãos, elas gelavam. Eram coisas dos avós, do pai de Sor Matteo, que estudara em Alba. Havia-os escritos em latim, como o livro de missa, outros com figuras de mouros e animais, e foi deste modo que conheci o elefante, o leão, a baleia. Dentre eles Nuto escolhia algum e levava-o escondido debaixo do pull-over. «De qualquer maneira», dizia, «ninguém já pensa em usá-los.»
- Que vais fazer com isso? - tinha-lhe perguntado. - Em tua casa já não compram o jornal?
- São livros - disse ele. - Quanto mais se lerem melhor. Serás sempre um ignorante se não leres livros.

Cesare Pavese, A Lua e as Fogueiras, Manuel Seabra (trad.). Colecção Mil Folhas, Público, 2002.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

As avelaneiras

Mas não esperava não encontrar as avelaneiras. A novidade desencorajou-me a ponto que não chamei, não entrei na eira. Compreendi então o que significa não ter nascido num lugar, não o ter no sangue, não estar já meio sepultado ao lado dos velhos, tanto que uma simples mudança de cultivo não nos afecte. Certamente, ainda havia manchas de avelaneiras na colina. Podia ainda reencontrar-me.

Cesare Pavese, A Lua e as Fogueiras, Manuel Seabra (trad.). Colecção Mil Folhas, Público, 2002.