Alguém, algures antes de mim, esboçou na parede
em linhas hesitantes que só um labor meticuloso
firmou e robusteceu, alguns desenhos toscos.
O espaço não define o céu e o mar, antes
o determinam o movimento das embarcações e o grito
silencioso que das enxárcias o cruza de lés a lés.
De perfil apruma a proa contra a corrente a nave azul
como que furtando-se à que, cor de sangue coagulado,
se lhe aferra à popa, adernando hostil. Toda a lisa
superfície do muro se encrespa no que parece
um entrechocar de ondas ou frémito de combate.
Aqui, algures antes de mim, alguém esgarçou
no negrume desta clausura um rasgão de luz
para que, imóvel e jacente, eu viaje na memória da pedra.
Rui Knopfli, A Ilha de Próspero: Roteiro Poético da Ilha de Moçambique, s.d.
Sem comentários:
Enviar um comentário