terça-feira, 15 de dezembro de 2009

hoje não estás próximo, és somente um animal
indeciso onde o tempo se mostra, a linha de água
que a noite encontrou para ter luz, e vejo-te
como um nome que não sei decifrar:
placa toponímica num país estrangeiro.
Uma longa viagem uma improvável chegada
acolhem-se na minha desordem,
sei agora porém que existe um lugar:
cisterna vulnerável ou praça com palmeiras,
um livro inacabado ou a voz de Hellen Watts:
o thou that tellest good tidings to Zion,
o tempo no entanto vacilou,
os corpos, as cidades, os caminhos,
desconhecem os segredos que os diziam,
as letras mudam de lugar, e o teu nome
adquiriu a paz de uma palavra
que não conseguirei nunca soletrar:
és assim uma presença fechada na estranheza
como Deus o era para Kant:
ponto de fuga onde a paisagem
reencontra o seu íntimo destino

Rui Nunes, Ofício de Vésperas, Relógio d'Água, 2007

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