terça-feira, 29 de maio de 2012

Há uma distância destruída

Há uma distância destruída
mesmo no lugar sobre o qual ousamos
reconhecer-nos sem nenhum sinal.
Perdem no artifício a proporção,
eles que foram sempre o meu aviso
sem nada cumprirem do que me avisavam.
E nessa lonjura de um olhar que quer perder-se
raiam na beleza dos mais justos filmes pornográficos.

O dízimo do mundo numa noite de outono,
o lugar aceso da lareira enferrujada,
o vazadouro agreste em que nos cerraram.
O que mata transporta estas oferendas,
esta catástrofe apaziguada,
enquanto detrás de um qualquer portão
se aproxima a máscara de cada forma,
toda por dentro da ossatura já desfeita
e nem então desaparecem.

Joaquim Manuel Magalhães, in «Adiafa», Alta Noite em Alta Fraga, Relógio d'Água,  2001.

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