sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Drive, Refn, Michael Mann

Vi há uns dias Drive de Nicholas Winding Refn e, embora esteja em crer que o texto de Luís Miguel Oliveira esgota o que havia para dizer sobre este filme, queria escrever algumas notas dispersas sobre alguns aspectos. A actuação contida dos actores (que deveria em parte servir o propósito de estabelecer um contraste de intensidade com a violência da segunda parte) é completamente frustrada pelos diálogos medíocres (um bom exemplo é o das palavras trocadas entre Driver e Standard depois de este ser espancado pelos tipos a quem devia dinheiro na prisão: parece-me escrito por um mau aluno de um mau curso de escrita criativa) que nunca permitem às personagens ganhar alguma espécie de espessura. Este tipo de personagens contidas, mas determinadas, inteligentes e violentas são magistralmente dirigidas por Michael Mann. A este propósito, veja-se esta cena:


É só o Depp a dizer à Cotillard uma das coisas mais banais do universo, é coisa cheia de estilo e é uma linha que define a própria personagem. É de uma economia que nunca se vê em Refn. O final é tão evidente que nem dá para acreditar. Para um tipo que está a realizar um filme centrado no acto de condução, este é um dos aspectos mais descurados. Acho que nem a actuação de Ryan Gosling (a quem regra geral basta andar no ecrã para eu me sentir contente) salva Drive. Talvez Drive não seja propriamente um filme mas uma espécie de videoclip em contínuo, no entanto acho que nem dessa forma resulta. O simbolismo óbvio de que se revestem algumas cenas é no mínimo muito fraco (mesmo para um filme que almeje meramente à tipificação das suas personagens - o exemplo nos antípodas seria o Match Point de Woody Allen, em que todos eles são tipos, mas ainda assim, é um bom filme), veja-se a este propósito a cena do herói com a criança nos braços, ou o diálogo entre eles os dois sobre como reconhecer um homem mau. A dada altura, parece-me que a contenção das personagens as transforma em caricaturas delas próprias (a cena do telefonema entre Driver e a criança depois da morte do pai é o paradigma). Nos antípodas:



E Drive parecia-me ter tudo para ser um filme impecável.

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