sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"La Meglio Gioventù" de Marco Tullio Giordana, 2003

Alguns filmes vistos em 2010

M de Fritz Lang, 1931.
In a Lonely Place de Nicholas Ray, 1950.
The Night of the Hunter de Charles Laughton, 1955.
La Notte de Michelangelo Antonioni, 1961.
Ieri, Oggi, Domani, de Vittorio De Sica, 1963.
I Fidanzati de Ermanno Olmi, 1963. 
Nattvardsgästerna de Ingmar Bergman, 1963.
Matrimonio all'italiana de Vittorio De Sica, 1964.
Il Giardino dei Finzi-Contini de Vittorio De Sica, 1970.
Scener ur ett äktenskap  de Ingmar Bergman, 1973. 
Network  de Sidney Lumet, 1976.
Una Giornata Particolare de Ettore Scola, 1977.
Fanny Och Alexander de Ingmar Bergman, 1982.
Ran de Akira Kurosawa, 1985.
Oci Ciornie de Nikita Mikhalkov, 1987.
Running on Empty de Sidney Lumet, 1988. 
O Brother Where Art Thou dos irmãos Coen, 2000.

Volta ao mundo

1.

Voltemos a isto, à contagem dos erros
na soma do mundo, à impotência do riso
contra tudo o que não sabemos mudar:
a morte, o egoísmo, o levadiço coração
humano. Porque não há mais nada (ok
há o amor - vai-te foder) e no mercado
do juízo a catequese está em alta.
Regressemos à toada desta fábrica de luz
defeituosa, intermitente como a vida.
Se não há melhor emprego para a culpa
e os domingos custam dias a passar.

José Miguel Silva, Erros Individuais, Relógio d'Água, 2010.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

"Ran" de Akira Kurosawa, 1985

sobre a leitura

Para uma relação viva do leitor com a literatura universal é, sobretudo, importante que ele se conheça a si próprio e, consequentemente, que conheça as obras que agem sobre ele num modo particular, evitando seguir um qualquer esquema ou programa cultural. A via que ele tem de percorrer é aquela do amor, não aquela do dever. O facto de nos obrigarmos a ler uma obra-prima só porque é celebérrima e nos envergonhamos de ainda não a conhecermos seria um grave erro.

Herman Hesse, «Uma Biblioteca da Literatura Universal», Uma Biblioteca da Literatura Universal, trad. de Virgílio Tenreiro Viseu, Cavalo de Ferro Editores, 2010

Caryatids

Sylvia and I met because she was curious about my group of friends at university and I was curious about her. I was working in London but I used to go back up to Cambridge at weekends. Half a dozen or so of us made a poetic gang. Our main cooperative activity was drinking in the Anchor and our main common interest, apart from fellow feeling and mutual attraction, was Irish, Scottish, and Welsh traditional songs—folk songs and broadsheet ballads. We sang a lot. Recorded folk songs were rare in those days. Our poetic interests were more mutually understood than talked about. But we did print a broadsheet of literary comment. In one issue, one of our group, our Welshman, Dan Huws, demolished a poem that Sylvia had published, “Caryatids.”

Ted Hughes, in Paris Review, n.º 134, Primavera de 1995.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"Mr. Klein" de Joseph Losey, 1976

Literatura

Inventada no Ocidente muito provavelmente por um grego cego, cujo nome, Homero, pode significar O que não vê ou, dependendo de como se dividir a palavra, qualquer coisa como A Parte (o que em parte ajuda a que muita gente pense que ele nunca existiu ou que fazia parte de um grupo), por volta do séc. IX a.C., e difundida por uma escola de aedos, homens que cantavam, talvez cegos como o primeiro, foi trazida para Roma e tornada definitivamente objecto de veneração e estudo nesta cidade (então ainda a uns séculos de atingir o seu apogeu como capital de um império e do mundo) quando um tipo chamado Crates de Malo partiu a perna na cloaca maxima (expressão latina que designa aquilo que em português parece designar) e, não tendo mais nada para fazer, resolveu dar umas aulas de literatura e retórica aos rústicos Romanos, através dos quais viríamos nós  a herdar aquilo a que hoje chamamos mais sistematicamente a tradição literária do ocidente e talvez o próprio hábito dos livros e da literatura, o  de escrever e contar histórias, se é que isso não seria sempre intrínseco tivessem existido ou não os Gregos e os Romanos. 
O étimo latino da palavra literatura, a sua origem, será litterae, palavra que no singular significa letra e que no plural tem por acepção mais relevante qualquer coisa como acção escrita, o que deixa a literatura a meio caminho entre o abstracto e o concreto. É esta palavra, litterae, que depois redunda em litteratura, e que entre os Romanos significa escrito, gramática, filologia, ensino elementar, ciência, erudição, etc. A origem da palavra talvez tenha obscura raiz no grego, διφθέρα, diftera, que significará esconderijo preparado
A verdade é que, tanto quanto sei, os Gregos, que entre os ocidentais inventaram a literatura e sobre ela primeiro pensaram, nunca tiveram um nome que lhe chamassem, ou talvez lhe chamassem genericamente ποίησις, poiêsis, que tem raiz no verbo ποιέω, fazer. Poesia é em primeiro lugar algo feito, não  tanto fabricação mas talvez craft ou criação, acção escrita, e mais tarde poesia, texto poético, composição poética. Esta última expressão também podia ser dita, de forma mais precisa, ποίημα, poiêma, poema.
Entre os Romanos o melhor contador de histórias talvez tenha sido esse homem com um nome que traduzido para português é completamente bárbaro: Públio Ovídio Nasão. Se ainda não leram isto, vale muito a pena. Mesmo muito.

What did you make of it

What did you make of it
When you sat at your elm table alone
Staring at the blank sheet of paper,
Silent at your typewriter, listening
To the leaking thatch drip, the murmur of rain,
And staring at the sunken church, and the black
Slate roofs in the mist of rain, low tide,
Gleaming awash.

Ted Hughes, in "Error", Birthday Letters, Farrar, Straus and Giroux, 1998. 

Uma tempestade em Havana


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Olhou e tornou a olhar

olhou e tornou a olhar, o universo murmura sob a chuva, meu Deus, que doce e suave tristeza, e que não nos falte nunca, nem mesmo nas horas de alegria.
José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).

Irlanda


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Herbert segundo Herling

Herbert was more or less my contemporary, though he’s dead now. He was writing as a poet during the Communist regime in Poland. He was not only a great and esteemed poet, but a fierce anti-Communist. He didn’t make concessions; he had no use for Ketman and so forth—so relations between Herbert and Milosz were always rather cool. He was one of the few writers in Poland who was, shall we say, Conradian in his refusal to compromise with the regime. He was a very great poet. As much as I like Szymborska personally—she’s an extremely nice woman—I was very sorry that she, rather than Herbert, got the Nobel prize.

Gustav Herling, in Paris Review, n.º156, Outono de 2000

Ted Hughes (III)

There is a sense in which every poem that comes off is a description or a dramatization of its own creation. Within the poem, I sometimes think, is all the evidence you need for explaining how the poem came to be and why it is as it is. Then again, every poem that works is like a metaphor of the whole mind writing, the solution of all the oppositions and imbalances going on at that time. When the mind finds the balance of all those things and projects it, that’s a poem. It’s a kind of hologram of the mental condition at that moment, which then immediately changes and moves on to some other sort of balance and rearrangement. What counts is that it be a symbol of that momentary wholeness. That’s how I see it.
*
After university I lived in London, did various jobs, but I was removed from friends and from constant Beethoven, and for the first time in years I thought about nothing but the poem I was trying to write. Then one night up came “The Thought Fox” and, soon after, the other pieces I mentioned. But I had less a sense of bursting out, I think, more a sense of tuning in to my own transmission. Tuning out the influences, the static and interference. I didn’t get there by explosives. My whole understanding of it was that I could get it only by concentration.

Ted Hughes, in Paris Review, n.º 134, Primavera de 1995.

domingo, 26 de dezembro de 2010

ʿÎsâ ibn Maryam

A Anunciação no Alcorão (Sura al-ʿImrân 3:41-45), em tradução versificada a partir do árabe, de F. Abu Iúçuf.


Recordemos agora quando o Anjo a Maria
Levou mensagem divinal:

Ave, Maria! Em verdade
Deus te elegeu
E fez pura
E escolheu
Acima das mulheres deste mundo!
Maria, sê tal
Que a piedade
Manifestes sem cessar ao teu Senhor!
Prostra-te, e em uníssono
Co'os demais louva, curvando-te, o Altíssimo!

(Estas recordações do que não vistes -
Porque não vos acháveis entre quantos
Sortes com canas deitam, p'ra saberem
A quem cabia a sorte de guardar
Maria para sempre, e disputaram,
Entre si, - são aquelas que de mim agora ouvistes).

... E, quando o Anjo disse:

Ave, Maria!
Anunciou-te, em verdade,
O Verbo que d'Ele vem!
Chamar-se-á o Messias,
Jesus filho de Maria,
Neste mundo assinalado
E assinalado no outro
Entre aqueles que mais perto
Estarão junto de Deus.
Sua voz será ouvida
Já por toda a humanidade,
Quer os que saiam do berço,
Quer os que sejam adultos.
E ele será contado
Entre o número dos justos!

Sura al-ʿImrân 3:41-45
trad.F. Abu Iúçuf
Poesia Alcorânica, ed. Rei dos Livros, Porto, 2002

Ted Hughes (II)

Maybe all poetry, insofar as it moves us and connects with us, is a revealing of something that the writer doesn’t actually want to say but desperately needs to communicate, to be delivered of. Perhaps it’s the need to keep it hidden that makes it poetic—makes it poetry. The writer daren’t actually put it into words, so it leaks out obliquely, smuggled through analogies. We think we’re writing something to amuse, but we’re actually saying something we desperately need to share. The real mystery is this strange need. Why can’t we just hide it and shut up? Why do we have to blab? Why do human beings need to confess? Maybe if you don’t have that secret confession, you don’t have a poem—don’t even have a story. Don’t have a writer. If most poetry doesn’t seem to be in any sense confessional, it’s because the strategy of concealment, of obliquity, can be so compulsive that it’s almost entirely successful. The smuggling analogy is loaded with interesting cargo that seems to be there for its own sake—subject matter of general interest—but at the bottom of Paradise Lost and Samson Agonistes, for instance, Milton tells us what nearly got him executed. The novelty of some of Robert Lowell’s most affecting pieces in Life Studies, some of Anne Sexton’s poems, and some of Sylvia’s was the way they tried to throw off that luggage, the deliberate way they stripped off the veiling analogies. Sylvia went furthest in the sense that her secret was most dangerous to her. She desperately needed to reveal it. You can’t overestimate her compulsion to write like that. She had to write those things—even against her most vital interests. She died before she knew what The Bell Jar and the Ariel poems were going to do to her life, but she had to get them out.

Ted Hughes, in Paris Review, n.º 134, Primavera de 1995.

Why madness sometimes works

I’ve sometimes wondered if it wouldn’t be a good idea to write under a few pseudonyms. Keep several quite different lines of writing going. Like Fernando Pessoa, the Portuguese poet who tried four different poetic personalities. They all worked simultaneously. He simply lived with the four. What does Eliot say? “Dance, dance, / Like a dancing bear, / Cry like a parrot, chatter like an ape, / To find expression.” It’s certainly limiting to confine your writing to one public persona, because the moment you publish your own name you lose freedom. It’s like being in a close-knit family. The moment you do anything new, the whole family jumps on it, comments, teases, advises against, does everything to make you self-conscious. There’s a unanimous reaction to keep you as you were. You’d suppose any writer worth his salt could be bold and fearless and not give a damn. But in fact very few can. We’re at the mercy of the groups that shaped our early days. We’re so helplessly social—like cells in an organ. Maybe that’s why madness sometimes works—it knocks out the oversensitive connection. And maybe that’s why exile is good.

Ted Hughes, in Paris Review, n.º 134, Primavera de 1995

sábado, 25 de dezembro de 2010

A Man in His Life

A man doesn't have time in his life
to have time for everything.
He doesn't have seasons enough to have
a season for every purpose. Ecclesiastes
Was wrong about that.

A man needs to love and to hate at the same moment,
to laugh and cry with the same eyes,
with the same hands to throw stones and to gather them,
to make love in war and war in love.
And to hate and forgive and remember and forget,
to arrange and confuse, to eat and to digest
what history
takes years and years to do.

A man doesn't have time.
When he loses he seeks, when he finds
he forgets, when he forgets he loves, when he loves
he begins to forget.

And his soul is seasoned, his soul
is very professional.
Only his body remains forever
an amateur. It tries and it misses,
gets muddled, doesn't learn a thing,
drunk and blind in its pleasures
and its pains.

He will die as figs die in autumn,
Shriveled and full of himself and sweet,
the leaves growing dry on the ground,
the bare branches pointing to the place
where there's time for everything.

Yehuda Amichai

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

"Johnny Guitar" de Nicholas Ray, 1954

Estar doido

Devo estar doido, murmurou, repetindo palavras de há treze dias. Gostaria de encontrar, nesta confusão, um sentimento que prevalecesse sobre os outros, de modo a poder responder, mais tarde, se lho vierem a perguntar, E como é que você se sentiu na terrível situação, Senti-me preocupado, ou indiferente, ou divertido, ou temeroso, ou envergonhado, em verdade não sabe o que sente, só deseja que as quatro horas cheguem depressa, o encontro fatal com o leão que o espera de boca aberta enquanto os romanos aplaudem, são assim os minutos, ainda que em geral se afastam para nos deixarem passar depois de nos rasparem a pele, mas sempre haverá um para devorar-nos. Todas as metáforas sobre o tempo e a fatalidade são trágicas e ao mesmo tempo inúteis, pensou

José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).

Suécia


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Your poems are like a dark city centre.
Your novel, your stories, your journals, your letters, are suburbs
Of this big city.
The hotels are lit like office blocks all night
With scholars, priests, pilgrims. It's at night
Sometimes I drive through. I just find
Myself driving through, going slow, simply
Roaming in my own darkness, pondering
What you did. Nearly always
I glimpse you - at some crossing,
Staring upwards, lost, sixty year old.

Ted Hughes, in "The City", Birthday Letters, Farrar, Straus and Giroux, 1998. 

Pensou, pessoanamente

pensou, pessoanamente, Se eu fumasse, acenderia agora um cigarro, a olhar o rio, pensando como tudo é vário e vago, assim, não fumando, apenas pensarei que tudo é vário e vago, realmente, mas sem cigarro, ainda que o cigarro, se o fumasse, por si mesmo exprimisse a variedade e a vaguidade das coisas, como o fumo, se fumasse. O revisor demora-se à janela, ninguém o chamará 
José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ou se é a impossibilidade

então vai-se ao tempo que passou, que só ele é verdadeiramente tempo, e tenta-se reconstituir o momento que não soubemos reconhecer, que passava enquanto reconstituíamos outros, e assim por diante, momento após momento, todo o romance é isso, desespero, intento frustrado de que o passado não seja coisa definitivamente perdida. Só ainda não se acabou de averiguar se é o romance que impede o homem de esquecer-se, ou se é a impossibilidade do esquecimento que o leva a escrever romances.
José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).

Cotovia Nova

Judaica.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Antologia

É uma nova revista de contos, editada pelo Emanuel Amorim, pelo Gonçalo Mira e pelo Nuno Fonseca. A paginação está a cargo de Joana Teixeira. Que tudo lhes corra pelo melhor.

Entardecer, Indonésia


É uma frase de que me lembro de vez em quando

Isto explica que, em todas as épocas, as infelicidades representadas na tragédia apareçam com uma certa luz que resgata o horror ou amargura. O exemplo da Antígona é uma prova célebre; porque, ao ver a peça de Sófocles, ninguém se prenderá ao aspecto desolador da peça: pelo contrário, conservamos no coração a admiração pela heroína; e, em todos os momentos da história se encontram homens para serem estimulados e encorajados.
Jacqueline de Romilly, A Tragédia Grega, Leonor Santa Bárbara (trad.), Edições 70, 1997.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Fotografia



















Eduardo Gageiro: Retratos com Histórias.

Caryatids (II)

Stupid with confidence, in the playclothes
Of still growing, still reclining
In the cushioned palanquin,
The nursery care of nature's leisurely lift
Towards her fullness, we were careless
Of grave life, three of us, four, five, six -
Playing at friendship. Time is plenty
To test every role - for laughs,
For the experiment, lending our hours
To perversities of impulse, charade-like
Improvisations of the insane,
Like prisoners, our real life
Perforce deferred, with the real
World and self. So, playing at students, we filled
And drunkenly drained, filled and again drained
A boredom, a cornucopia
Of airy emptiness, of the brown
And the yellow ale, of makings and unmakings -
Godlike, as frivolous as faithless,
A dramaturgy of whim.
That was our education. The world
Crossed the wet courts, on Sunday, politely,
In tourists' tentative shoes.
All roads lay too open, opened too deeply
Every degree of the compass.
Here at the centre of the web, at the crossroads,
You published your poem
About Caryatids. We had heard
Of the dance of your blond veils, your flaring gestures,
Your misfit self-display. More to reach you
Than to reproach you, more to spark
A contact though the see-saw bustling
Atmospherics of higher learning
And lower socializing, than to correct you
With our arachaic principles, we concocted
An attack, a dismemberment, laughing.
We had our own broadsheet to publish it.
Our Welshman composed it - still deaf
To the white noise of the elegy
That would fill his mouth and his ear
Worlds later, on Cader Idris,
In the wind and snow of your final climb.

Ted Hughes, Birthday Letters, Farrar, Straus and Giroux, 1998. 

Caryatids (I)

What were those caryatids bearing?
It was the first poem of yours I had seen.
It was the only poem you ever wrote
That I disliked through the eyes of a stranger.
It seemed thin and brittle, the lines cold.
Like the theorem of a trap, a deadfall - set.
I saw that. And the trap unsprung, empty.
I felt no interest. No stirring
Of omen. In those days I coerced
Oracular assurance
In my favour out of every sign.
So missed everything
In the white, blindfolded, rigid faces
Of those women. I felt their frailty, yes:
Friable, burnt aluminium.
Fragile, like the mantle of a gas-lamp.
But made of nothing
Of that massive, starless, mid-fall, falling
Heaven of granite
                           stopped, as if in a snapshot,
By their hair.

Ted Hughes, Birthday Letters, Farrar, Straus and Giroux, 1998.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Fulbright Scholars

Where was it, in the Strand? A display
of new items, in photographs.
For some reason I noticed it.
A picture of that year's intake
of Fulbright Scholars. Just arriving -
Or arriving. Or some of them.
Were you among them? I studied it,
Not too minutely, wondering
Which of them I might meet.
I remember that thought. Not
Your face. No doubt I scanned particularly
The girls. Maybe I noticed you.
Maybe I weighed you up, feeling unlikely.
Noted your long hair, loose waves -
Your Veronika Lake bang. Not what it hid.
It would appear blond. And your grin.
Your exaggerated American
Grin for the cameras, the judges, the strangers, the frightners.
Then I forgot. Yet I remember
The picture: the Fulbright Scholars.
With their luggage? It seems unlikely.
Could they have come as a team? I was walking
Sore-footed, under hot sun, hot pavemens.
Was it then I bought a peach? That's as I remember.
From a stall near Charing Cross Station.
It was the first fresh peach I had ever tasted.
I could hardly believe how delicious.
At twenty-five I was dumbfounded afresh
By my ignorance of the simplest things.

Ted Hughes, Birthday Letters, Farrar, Straus and Giroux, 1998.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Protestos

Protestos na Grécia.

É hoje

Pelas 18h30.

"Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil"



















Hannah Arendt deu a este livro um título que pode induzir os seus leitores em erro, e  que deve ter sido o ponto de partida para algumas das reacções que despoletou e que tantas dores de cabeça lhe devem ter dado. Não só está completamente fora do seu horizonte demonstrar que a forma de mal de que é objecto este seu estudo seja banal ou banalizável, como ela própria, constantemente, nos dá elementos (embora, na verdade, atendendo ao contexto estes sejam redundantes) que deslocam irreversivelmente os actos que descreve do campo do comum. A banalidade é uma qualidade intrínseca de Eichmann, não dos actos por que também ele foi responsável. Ele é um homem, como Hannah Arendt a certa altura diz, "thoughtless but not stupid, which is by no means the same thing". E, muito concisamente, é isto que é terrível: a forma como um tipo tão banal, tão medíocre, que antes de entrar para as S.S. estava para se tornar membro de uma organização de cariz maçónico chamada Schlaraffia, tem todo este tremendo potencial e se torna, de facto, responsável pelos actos mais monstruosos sem por um momento ter um rebate de consciência.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chapéus de chuva do Laos


O dia

«O dia, flor extrema»

Diz Octavio Paz, em Árvore Adentro.

5

Um veio de sol, ouro animado,
estrias, cruzes, espirais,
verdes constelações:
o triangular insecto,
avançava entre as ervas
três ou quatro milímetros por hora.
Por um instante o tiveste
na palma da mão
(onde o instinto traça o seu secreto arabesco)
é uma jóia viva, criatura
talvez caída de Titânia,

- e deixaste-o, reverente,
regressar ao Grande Todo.

Octavio Paz, Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Protestos

Protestos em Itália.

Os Jónios em Delos*


Mas é em Delos, Febo, que mais se agrada o teu coração,
Aí, na tua avenida, se reúnem os Jónios
de longas túnicas com seus filhos e mulheres
e, uma vez sentados em assembleia, com pugilato
e dança e canto te recordam e te deleitam.                                                       
Podia pensar um homem que eles eram os imortais sem idade,
se se deparasse com os Jónios quando eles se reúnem.    

De um excerto do Hino a Apolo, vulgarmente atribuído a Homero.

Este verso, «Podia pensar um homem que eles eram os imortais sem idade», é uma coisa que Homero passou a vida a fazer, é quando, querendo fazer-nos ver um homem, daqueles que nos seus poemas às vezes são quase paisagem,  ele o desenha no seu melhor momento, na sua hora mais bela, com a extrema graciosidade de um gesto qualquer, e depois: «vejam como é efémero, como vai passar tão depressa.» A sério, parece dizer «são estupidamente generosos e belos os homens na sua efemeridade. Porque depressa fenecem, deviam ser avaros no que vivem, comedidos na sua alegria, mas de tudo são capazes excessivamente. Vejam como é maravilhoso isto.» 
* A tradução é minha, a partir da edição crítica dessa lenda vida entre os helénicos que é Martin Litchfield West.

Petrificadamente viagem




































Segundo o cruel Zenão, que dá o nome ao paradoxo homónimo, um objecto está imóvel no espaço quando ocupa um lugar equivalente às suas próprias dimensões. Em qualquer momento do seu rápido voo pelo espaço, uma seta ocupa sempre o lugar igual às suas próprias dimensões, nem mais nem menos, logo está em repouso, não se move. 
Quer isto dizer, que se pusermos o atleta Aquiles (a.k.a Aquiles de Pés Velozes, podarchês achileus [se a memória no grego não me falha]) a competir com uma tartaruga que, de dado ponto, parta primeiro que ele, quando ele a alcançar, já ela se terá deslocado do ponto de onde partiu e estará sempre um passo à frente de Aquiles, porque temporalmente alcança esse ponto antes de quem a persegue. Portanto, para Zenão, a única maneira de ele viajar no espaço seria? Duplicar-se nele? Expandir-se?
E quão cruel é a ideia de um mundo sem movimento, a noção de que podes ir de uma cidade a outra mas que nem assim te estás a mover, que apenas te desperdiças no espaço e no tempo? E quanto a Aquiles ser humilhado por uma tartaruga, Aquiles o tipo que com aquele voo de águia em torno das muralhas de Tróia tanto humilhou Heitor? 
Por isso escreveu Válery, não me lembro já onde, aquele poema em que dizia, «cruel Zenão, com uma flecha me trespassas, uma flecha que vibra mas não voa, pelo som nasço, pela flecha morro». Válery encontra, neste poema, uma forma de estilhar pelo som (eppur si muove o som) o que o rápido avançar da flecha não pode, para Zenão, quebrar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"Murder on the Orient Express" de Sidney Lumet, 1974




































Este é um filme com um elenco que é uma mitologia, filmado por um grande realizador (a Sidney Lumet bastava-lhe ter realizado Running on Empty  para conquistar para sempre e com indisputabilidade um lugar ao lado de Zeus no Olimpo e o direito de brincar com o raio de vez em quando), que gera uma desilusão proporcional às expectativas que alimentamos quando lhe lemos a ficha técnica. Salva-se por causa da fotografia, tão bonita, porque está tão bem filmado e porque dá vontade de ir de Istambul a Londres de comboio, o que nasce em parte da imensa imagem que vemos logo no princípio do Corno de Ouro ao entardecer. Em tudo o resto é uma variação sobre 12 Hungry Man, mas pior, porque Poirot não tem a densidade da personagem de Henry Fonda. A somar a  isto, ficamos hipnotizados pela visão do cabelo cheio de brilhantina de Hercule Poirot, a personagem mais irritante de sempre.

Gosta de se fazer passar por atento leitor de poesia


Irmandade

Homenagem a Cláudio Ptolomeu

Sou homem: duro pouco
e a noite é enorme.
Para cima olho, porém:
escrevem estrelas.
Sem entender, compreendo:
escrita também sou,
e neste mesmo instante,
alguém me soletra.

Octavio Paz, Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

sábado, 11 de dezembro de 2010

Quando pedrado com mescalina

Walter Benjamin escreveu coisas como: «Escreve minha ovelhinha escreve.»; «Canção da ovelhinha é a moldura/ Canção da escrita é a imagem/ dorme minha ovelhinha dorme»; «Ovelha meu soninho ovelha.»

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O teu riso de reconciliação

vimos uma mariposa pousar sobre a cabeça da
caixeira, abrir as asas da chama, e dispersar-se em
cintilações,
tocámos os pensamentos que pensávamos, e
vimos as palavras que dizíamos,
depois, voltou o ruído das colheres, cresceu o
marulhar, e o ir e vir das gentes,
mas tu estavas à beira do alcantilado, era um
amplo sorriso a baía,
e, lá em cima, pactuavam luz e vento: Psiqué
soprou na tua fronte.
Não foste Lícida, nem te afogaste num naufrágio
no mar da Irlanda,
foste Kostas Papaiaoannou, um grego universal
de Paris, com um pé na Bactriana e o outro em
Delfos,
e, por isso, escrevo em tua memória estes versos,
no metro irregular da sístole e da diástole,
prosódia do coração, que torna breves as sílabas
longas, e longas as breves
versos longos e curtos, como os teus passos
subindo da Pont Neuf ao lion de Belfort, recitando o
poema de Proclus,
versos para seguir, sobre esta página, o rasto das
tuas palavras, que são cabras, que são ménades
saltando à luz da lua num vale de pedra e sólidos
de vidro por elas inventados
enquanto tu falas de Marx e de Teócrito, e ris,
e as vês bailar entre os teus livros e papéis
- é Verão, e estamos num atelier que dá para
um jardinzito no beco Daguerre,
há uma latada, da qual pendem cachos de uvas,
condensações da noite: dentro, dorme um fogo,
tesouros escaldantes, assim seriam os que viu e
tocou Nerval no ouro da trança divina? -
o teu falar caudaloso avança entre obeliscos  e
arcos quebrados, inscrições mutiladas, cemitérios de
nomes,

(...)

e tu deténs-te, e olhas, calado, o deus da história:
cabras, ménades e palavras dissipam-se.

(...)

O homem é as suas visões: uma tarde, depois de
uma tormenta, viste, ou sonhaste, ou inventaste, é o
mesmo

(...)

Kostas, entre as cinzas geladas da Europa, eu não
encontrei o ovo da ressurreição:
encontrei, ao pé da cruel Quimera empapada de
sangue, o teu riso de reconciliação.

Octavio Paz, "Kostas", Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

"Gilgamesh"


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

(uma imagem)

a vertigem imóvel do adolescente desenterrado
que irrompe à minha frente enquanto escrevo
e caminha de novo, multisó na sua solidão, por
ruas e praças desmoronadas mal as digo
e se perde de novo em busca de tudo e de todos,
de nada e de ninguém

Octavio Paz, "1930: Fixos Desígnios", Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

A diferença inicial que separa a noite da madrugada

Quando só uma visão mil vezes mais aguda do que a pode dar a natureza seria capaz de distinguir no oriente do céu a diferença inicial que separa a noite da madrugada, o almuadem acordou. Acordava sempre a esta hora, segundo o sol, tanto lhe fazendo que fosse verão como inverno, e não precisava de qualquer artefacto para medir o tempo, nada mais que uma mudança infinitesimal na escuridão do quarto, o pressentimento da luz apenas adivinhada na pele da fronte, como um ténue sopro que passasse sobre as sobrancelhas ou a primeira e quase imponderável carícia que, (continuem a ler por vós, que isto está na pág. 17)

José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).
Lobo Antunes tem um momento parecido com este, ao dizer, nem me lembro já onde, «acordo ao som da luz».

Este lado

A Donald Sutherland
 Há luz. Não a tocamos nem vemos.
Nas suas ocas claridades,
repousa o que vemos e tocamos.
Eu vejo com as polpas dos dedos
o que palpam meus olhos:
------------------sombras, mundo.
Com as sombras, desenho mundos,
dissipo mundos com as sombras.
Oiço pulsar a luz do outro lado.

Octavio Paz, Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Almuadem

A verdade histórica, aprenda-o, é que os almuadens eram escolhidos entre os cegos, não por humanitária política de emprego ou encaminhamento profissional fisiologicamente adequado, mas para que não pudessem devassar a intimidade dos pátios e açoteias que, do alto da almádena, em figura. O revisor já não se recorda de como o soube, certamente o terá lido em livro digno de confiança, que o tempo não emendou, por isso pode insistir agora que os almuadens eram cegos, sim senhor. Quase todos. Apenas, quando em tal lhe acontece pensar, não consegue repelir de si uma dúvida, se a esses homens não lhes furariam os olhos lúcidos, como se fazia e talvez se faça ainda aos rouxinóis, para que da luz não conhecessem outra manifestação que uma voz ouvida nas trevas, a sua, ou, porventura, a daquele Outro que não sabe mais que repetir as palavras que vamos inventando, estas com que tentamos dizer tudo, bendição e maldição, até o nome que não terá nunca, inominável.

José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, 2008 (8ª edição).

Áxion Esti

Vai ouvir.

IV

Para esperar a noite, estendi-me
à sombra de uma árvore de palpitares.

A árvore  é mulher, e em sua folhagem,
ouço o mar pela tarde a rolar.

Como seus frutos com sabor a tempo,
frutos de olvido e conhecimento.

Sob a árvore, olham-se e tocam-se
imagens, ideias e palavras.

Pelo corpo voltamos ao começo,
espiral de quietude e movimento.

Sabor, saber mortal, pausa finita,
tem princípio e fim - e nula medida.

A noite entra e cobre-nos de marés;
repete-lhe, já negras, o mar as suas sílabas.

Octavio Paz, Árvore Adentro, Luís Alves da Costa (trad.), Vega, 1994

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

an unmirrored, unreflected innocence of heart and mind

This story took no more than perhaps ten minutes to tell, and when it was over -- the senseless, needed destruction of twenty-seven years in tewnty-four hours -- one thought foolishly: Everyone, everyone should have his day in court. Only to find out, in the endless sessions that followed, how difficult it was to tell the story, that -- at least outside the transforming realm of poetry -- it needed a poetry of soul, an unmirrored, unreflected innocence of heart and mind that only the righteous possess.

Hannah Arendt, Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil, Penguin Classics, 2006

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Primavera

Primavera que a mim me não agradas, quero
de ti dizer que passando a esquina
de uma rua, o teu presságio me feria
como uma lâmina. A sombra ainda leve
dos ramos nus na terra ainda
nua perturba, como se também eu pudesse
devesse
renascer. A tumba
parece insegura quando tu te apressas, antiga
primavera, que mais do que qualquer estação
cruelmente ressuscitas e matas.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

Lembra-me as «Noites Brancas»


domingo, 5 de dezembro de 2010

Vai mas é passear

com o Johnny Guitar.

ao engano


para Ana de Sousa Vitorino

devagar estou desfazendo como um gato o novelo mas
sem a fúria pertinaz do gato vem e dá-me pelo pescoço
mão que sufoca ou poeira para uma distância levando-me
hesitante por um braço dia de muito calor
na berma da estrada o aprumo que mostram
os velhos nos seus negros coletes lendo o jornal
ficaram nas aldeias de onde subimos à cidade
de lisboa que não é mais que uma escada que desce junto ao rossio 
os limoeiros deixámos e viemos eles quando florescendo 
guardaram-nos uma alegria  terna de flores como se alguém que dançando
tropeçasse nos próprios pés pisasse no risco de giz o chão
como tu que a música sobre a  laje um pouco mais alta
pisas  e dás por ti de novo subindo o azul nas escadas
com modos furtivos como para roubar qualquer coisa
o quê não importa e eu digo que me vendesses qualquer coisa
porque minha é uma alma comercial dessas que se alegram
na troca de pequenas ninharias como lápis de cor e penas coloridas
ou por exemplo a moeda em êleusis trocada por outra moeda
eu teria já um óbolo ao engano como a mão crispada
no bolso cerzido em êleusis traição perpetrada quando somos
ao engano o princípio do mistério somos nós
bafejando baixo na mão um novelo de linhas
amarelo mas sempre outra coisa outra coisa
com toleráveis fios de lã nos ataram as mãos o vinho amargo na boca
nunca havemos nós de tolerar o destino que nos foi imposto


Tatiana Faia

Mediterrânea

Penso num longíquo mar, num porto, nas secretas
ruas desse porto; no que outrora neles era,
e no que hoje aqui sou, e aos deuses as mãos
suplicantes ergo, para que me não castiguem
por uma última vitória que desejo tanto
(mas o coração, por doçura, mal sentia);

penso na sereia sombria
- beijos, embriaguez, delírio -; penso em Ulisses
que aí de um leito triste se levanta.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Contovello

Um homem rega o campo. Depois desce
tão inclinada no monte uma escadinha,
e que parece, quando avança, vizinha,
do vazio. O mar a seus pés num corropio.

Aparece de novo. Afadiga-se ainda à volta
do retalho de cinzenta terra, juncada
de tojo, à flor da rocha. Sentado
na taberna, bebo este àspero vinho.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Três cidades

1 Milão

Entre as tuas pedras e as tuas brumas estou
em vilegiatura. Descanso na Piazza
del Duomo. Em lugar
de estrelas
todas as noites se acendem palavras.

Nada descansa tanto da vida como
a vida.

2 Turim

Regressarei à cercadura amável
dos teus montes, às ruas que se prolongam
como sons vibrantes. Logo depois num estranho
silêncio fugirei de reuniões, de amigos.
Mas procurarei o soldado Salamano,
o mais duro em palavras, o mais agarrado
ao dever, que em si mostra a tua virtude como um espelho.

Procurarei a oficina onde ele vai ficando velho.

3 Florença

Para abraçar o poeta Montale
- bem generosa é a sua tristeza - estou
na cidade que me foi querida. É como
se cada pedra que o pé pisa fosse
o meu coração, a minha dor
de outrora. Mas não sinto saudade.Nasce
- outra constelação - uma outra idade.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Network" de Sidney Lumet, 1976

Lugar de Fruta

Verduras, fruta, cores da bela
estação. Algumas cestas onde à sede
se revelam doces polpas cruas.

Entra um miúdo com as pernas nuas,
altivo, mas logo foge.
.................................Escurece
a humilde lojeca, envelhece qual
uma mãe.
..................................E lá fora, ele, ao sol,
afasta-se ligeiro com a sua sombra atrás.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.

mais vos dirá o seco Tucídides, do que o artificioso Xenofonte*

Parece que finalmente acabaram os rumores. No próximo dia 16 de Dezembro, por volta das 18h30, no Museu Calouste Gulbenkian, será lançada a primeira tradução portuguesa, feita a partir do original grego, da  (única) obra de Tucídides - História da Guerra do Peloponeso. A tradução foi feita por Raul Miguel Rosado Fernandes e por M. Gabriela P. Granwehr.
Esta notícia em termos futebolísticos equivalerá eventualmente a isto:



*É um verso de Giánnis Ritsos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O que tu tens da andorinha, disse-o Umberto Saba

O que tu tens da andorinha
é a errância pouco austera;
o que para mim, que me sentia e era
velho, anunciava uma outra primavera.

Umberto Saba, Poesia, Tradução de José Manuel de Vasconcelos, Assírio & Alvim, 2010.