segunda-feira, 31 de outubro de 2011
domingo, 30 de outubro de 2011
3.5
So they swooped to their prey;
H.D., Helen in Egypt, New Directions, s.d. (1961, 1ªed.)
there was never such a spread of wings,
such a play of golden feathers,
though I did not see them,
I heard them, as I heard myself say,
O Thetis, O sea-mother;
Let me forget the other,
for to-day is to-day,
ringed and rayed with the word "beautiful";
how shall I answer him?
what is the answer to
Helena, which was the dream?
the rasp of a severed wheel,
the fury of steel upon steel,
the spark from a sword on a shield?
or the deathless spark
of Helena's wakening...
a touch in the dark?
H.D., Helen in Egypt, New Directions, s.d. (1961, 1ªed.)
sábado, 29 de outubro de 2011
7.8
Strive not to wake the dead;
the incomparable host
with Helen and Achilles
are not dead, not lost;
the isles are fair (nor far),
Paphos, the Cyclades;
a simple spiral-shell may tell
a tale more ancient
than these mysteries;
dare the uncharted seas,
Achilles waits, and life;
beyond these pylons and these gates,
is magic of the wind, the gale;
the mystery of a forest-tree,
whispering its secrets upon Cithaeron,
holds subtler meaning
than this written stone
or leaves of the papyrus;
let rapture summon
and the foam-flecked sand,
and wind and hail,
rain, sleet and the bewildering snow
that lifts and falls,
conceals, reveals,
(the actual
and the apparent veil),
Helen - come home.
H.D., Helen in Egypt, New Directions, s.d. (1961, 1ªed.)
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
São agora oito e meia
São agora oito e meia, um aquecedor a gás, túlipas amarelas e vermelhas, e de repente, do pé para a mão, uma pastilha de chocolate da marca Droste, da tia Hes' e as três pinhas do urzal de Laten que ainda estão espalhadas junto à rapariga marroquina e ao Púchkin.
Sinto-me tão «normal», tão muitíssimo normal e satisfeita, assim sem aqueles pensamentos profundos e torturantes e pesados, mas tão normalíssima, tão cheia de vida e muito profunda, porém uma profundidade que pode ser encarada como normal.
Etty Hillesum, Diário: 1941-1943, Maria Leonor Raven-Gomes (trad.), Assírio & Alvim, 2009 (3ª ed.).
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
terça-feira, 25 de outubro de 2011
3
I counted the fall of her feet
from turret to turret;
will the count even yesterday's?
will there be five over?
this was a game I played,
a game of prophecy;
if she turns and shields her eyes,
gazing over the plain - yes -;
if she waits as she waited
day before yesterday
for ten heart-beats
before the second gate - no -;
what was the question
to which she gave the answer
with the measured fall of her feet,
or her pause over the rampart
that bridged the iron-gate?
shall we strike as my legions had struck,
first through the long fight,
or shall we take the second place
and leave the Trojan's fate to Odysseus?
did the Command read backward?
I stooped to fasten a greave
that was loosed at the ankle,
when she turned; I stood
indifferent to the rasp of metal,
and her eyes met mine;
you say, I could not see her eyes
across the field of battle,
I could not see their light
shimmering as light on the changeable sea?
all things would change but never
the glance she exchanged with me.
H.D., Helen in Egypt, New Directions, s.d. (1961, 1ªed.)
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração
Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de integração social e profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque se escreve, não se sabe exactamente. Porque a poética precisão de um acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
domingo, 23 de outubro de 2011
sábado, 22 de outubro de 2011
Uma livraria de viagens
A Palavra de Viajante abriu hoje e fica ali para os lados de S. Bento. Deixo a nota de que é um espaço muito agradável e uma boa livraria dedicada - sobretudo - a literatura de viagens.
Frag. 31 de Safo
Parece-me igual aos deuses
esse homem que diante de ti
se senta e de perto escuta o teu
conversar doce
e o teu riso amável, isso faz
o coração tremer-me no peito
porque quando te vejo, ainda que por um instante, não
me resta um fio de voz,
não: a língua paralisa-se, corre
um fogo ténue sob a pele,
nos olhos nenhuma imagem, um latejar
nos ouvidos,
apodera-se de mim o suor e transpiro, um tremor
toma-me completamente, torno-me mais verde
do que erva, morro ou assim
me parece.
Mas tudo deve ser ousado, porque †mesmo um homem pobre†
<...>
esse homem que diante de ti
se senta e de perto escuta o teu
conversar doce
e o teu riso amável, isso faz
o coração tremer-me no peito
porque quando te vejo, ainda que por um instante, não
me resta um fio de voz,
não: a língua paralisa-se, corre
um fogo ténue sob a pele,
nos olhos nenhuma imagem, um latejar
nos ouvidos,
apodera-se de mim o suor e transpiro, um tremor
toma-me completamente, torno-me mais verde
do que erva, morro ou assim
me parece.
Mas tudo deve ser ousado, porque †mesmo um homem pobre†
<...>
Versão minha, a partir da edição crítica do texto grego fixado por Eva-Maria Voigt (Amsterdão, 1971). Este poema foi, por diversas vezes, traduzido entre nós, as duas versões que mais destacaria são as de Eugénio de Andrade (que não é feita a partir do original) e de Frederico Lourenço.
Não as confrontei quando fiz a minha tradução, mas sei que coincidiremos em algumas das soluções. Os maiores desvios que tive de fazer em relação ao grego encontram-se nos dois últimos versos da segunda estrofe e no primeiro verso da penúltima estrofe. Não me apetece explicar como cometo estas duas pequenas infidelidades, acredito que à custa delas preservei o melhor que pude o espírito do texto.
A solução que Lobel & Page apresentam para o segundo dos versos em que cometo uma pequena traição parece-me muito elegante, mas o bom senso diz-me que a solução de Voigt, a mesma que segue Campbell, é a que Safo mais provavelmente poderá ter escrito e, para efeitos de tradução, é isso que me importa sobretudo.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Há que amar a mulher que disse:
Francamente - porque pensam que eu escrevo? Para incomodar o maior número de pessoas, com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um facto civilizador. Para ganhar a vida e figurar no Larousse com o mesmo realismo utópico aplicado a Madame Pompadour. Que, sendo pequenina e abonecada, ali se apresenta como «grande, bien faite». A fama de uma pessoa confunde o juízo, como o amor fabuloso e o erotismo pedante.
Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.
Agustina Bessa-Luís, Contemplação Carinhosa da Angústia, Guimarães Editores, 2000 (seg. ed.)
Post idiossincrático
Para os dois que neste blog amam Bellow (a segunda parte de uma entrevista dada em 1988, que tinha permanecido inédita).
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Voltad'Mar
Um novo projecto editorial para seguir aqui. Que tenha longa vida. O primeiro livro publicado é hibernu, de Luís Paulo Meireles.
Lectura en un colegio
Más vale que no sepan para qué
sirve leer poesía, si algunos aún la leen.
No les expliques,
calla,
que no sepan
que su belleza no es neutral, que hace
insoportables la crueldade, la idiotez y el ruido
y por eso nos vuelve solitarios.
Algunos aún la leen.
Si te preguntan
qué es o para qué, tartamudea,
contesta imprecisiones, y sonríe.
Más tarde, cuando tengan el alma en carne viva
y hayan llorado mucho, recordarán que tú
pudiste hacerlo y no les previniste,
y te darán las gracias.
Enrique García-Máiquez, Con el Tiempo, Editorial Renacimiento, 2010
La vocación
Por qué escribir en verso si la prosa
es fácil, la publican, me la pagan
y tiene hasta lectores? La respuesta
es sólo esta pregunta, cada noche.
Enrique García-Máiquez, Con el Tiempo, Editorial Renacimiento, 2010
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
"As Artes sempre foram, são e serão minoritárias"
Não deixem de ler o texto de António Pinto Ribeiro no ípsilon. Aqui.
Etc.
enquanto (des)espero por isto,
[v]
my sweet old etcetera
aunt lucy during the recent
war could and what
is more did tell you just
what everybody was fighting
for,
my sister
isabel created hundreds
(and
hundreds)of socks not to
mention shirts fleaproof earwarmers
etcetera wristers etcetera, my
mother hoped that
i would die etcetera
bravely of course my father used
to become hoarse talking about how it was
a privilege if only he
could meanwhile my
self etcetera lay quietly
in the deep mud et
cetera
(dreaming,
et
cetera, of
Your smile
eyes knees and of your Etcetera)
e. e. cummings, xix poemas, Assírio & Alvim, 1998.
[v]
my sweet old etcetera
aunt lucy during the recent
war could and what
is more did tell you just
what everybody was fighting
for,
my sister
isabel created hundreds
(and
hundreds)of socks not to
mention shirts fleaproof earwarmers
etcetera wristers etcetera, my
mother hoped that
i would die etcetera
bravely of course my father used
to become hoarse talking about how it was
a privilege if only he
could meanwhile my
self etcetera lay quietly
in the deep mud et
cetera
(dreaming,
et
cetera, of
Your smile
eyes knees and of your Etcetera)
e. e. cummings, xix poemas, Assírio & Alvim, 1998.
Aerialist
Each night, this adroit young lady
Lies among sheets
Shredded fine as snowflakes
Until dream takes her body
From bed to strict tryouts
In tightrope acrobatics.
Nightly she balances
Cat-clever on perilous wire
In a gigantic hall,
Footing her delicate dances
To whipcrack and roar
Which speak her maestro’s will.
Gilded, coming correct
Across that sultry air,
She steps, halts, hung
In dead center of her act
As great weights drop all about her
And commence to swing.
Lessoned thus, the girl
Parries the lunge and menace
Of every pendulum;
By deft duck and twirl
She draws applause; bright harness
Bites keen into each brave limb
Then, this tough stint done, she curtsies
And serenely plummets down
To traverse glass floor
And get safe home; but, turning with trained eyes,
Tiger-tamer and grinning clown
Squat, bowling black balls at her.
Tall trucks roll in
With a thunder like lions; all aims
And lumbering moves
To trap this outrageous nimble queen
And shatter to atoms
Her nine so slippery lives.
Sighting the stratagem
Of black weight, black ball, black truck,
With a last artful dodge she leaps
Through hoop of that hazardous dream
To sit up stark awake
As the loud alarmclock stops.
Now as penalty for her skill,
By day she must walk in dread
Steel gauntlets of traffic, terror-struck
Lest, out of spite, the whole
Elaborate scaffold of sky overhead
Fall racketing finale on her luck.
Sylvia Plath, Collected Poems, Faber and Faber, 1981.
Lies among sheets
Shredded fine as snowflakes
Until dream takes her body
From bed to strict tryouts
In tightrope acrobatics.
Nightly she balances
Cat-clever on perilous wire
In a gigantic hall,
Footing her delicate dances
To whipcrack and roar
Which speak her maestro’s will.
Gilded, coming correct
Across that sultry air,
She steps, halts, hung
In dead center of her act
As great weights drop all about her
And commence to swing.
Lessoned thus, the girl
Parries the lunge and menace
Of every pendulum;
By deft duck and twirl
She draws applause; bright harness
Bites keen into each brave limb
Then, this tough stint done, she curtsies
And serenely plummets down
To traverse glass floor
And get safe home; but, turning with trained eyes,
Tiger-tamer and grinning clown
Squat, bowling black balls at her.
Tall trucks roll in
With a thunder like lions; all aims
And lumbering moves
To trap this outrageous nimble queen
And shatter to atoms
Her nine so slippery lives.
Sighting the stratagem
Of black weight, black ball, black truck,
With a last artful dodge she leaps
Through hoop of that hazardous dream
To sit up stark awake
As the loud alarmclock stops.
Now as penalty for her skill,
By day she must walk in dread
Steel gauntlets of traffic, terror-struck
Lest, out of spite, the whole
Elaborate scaffold of sky overhead
Fall racketing finale on her luck.
Sylvia Plath, Collected Poems, Faber and Faber, 1981.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Caralho de guerra
Caralho de guerra caralho de guerra caralho de guerra, sou paisano de novo por uns dias e viajo na geografia mansa do teu corpo, no rio da tua voz, na sombra fresca das tuas palmas, na penugem de peito de pomba do teu púbis, mas eu e Xana e tu chuva de sábado é que somos ainda verdade, o choro súbito da nossa filha na noite dos lençóis a acordar-nos, os biberões aquecidos na cozinha em noites de angústia e de esperança, não, oiça, hoje, quando me deito, o futuro é um nevoeiro fechado sobre o Tejo sem barcos, é um grito aflito ocasional na bruma, viverei muito tempo dentro dos teus gestos
António Lobo Antunes, Os Cus de Judas, BisLeya, 2008.
Por instinto
Desejava que alguém se lembrasse de me vexar, para poder atravessar-lhe o corpo com a minha espada! Se eu visse sangue, ficava mais sossegado. Ah! Já peguei cem vezes numa faca para fazer parar a minha sufocação. Fala-se de uma pobre raça de cavalos que, quando estão afogueados e cansados abrem eles mesmos, por instinto, uma veia com os dentes para facilitar a respiração. Encontro-me muitas vezes nesse caso, quereria abrir uma veia que me conseguisse a liberdade eterna.
Goethe, Werther
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
O escuro
O escuro cavava-se de galerias, de corredores, de degraus que os sons penetrava numa angústia desesperada, folheando sombras, deslocando rostos, remexendo as gavetas vazias do silêncio em busca do eco de si mesmos, tal como por vezes nos encontramos, aterrados e surpresos, nos objectos esquecidos nas prateleiras dos armários a lembrarem-nos quem fomos numa insistência cruel.
António Lobo Antunes, Os Cus de Judas, BisLeya, 2008.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Folías de España
Uma das melodias mais glosadas da história da música ocidental, a "folia de Espanha", provavelmente de origem portuguesa. Aqui temos a versão de Antonio Martín y Coll (m. c. 1724).
Outras versões interessantes:
Jean-Baptiste Lully (1632-1687)
Corelli (1653-1713)
Marin Marais (1656-1728)
Alessandro Scarlatti (1660-1725)
Vivaldi (1678-1741)
J. S. Bach (1685-1750)
Antonio Salieri (1750-1825)
Sergei Rachmaninov (1873-1943)
etc., etc., etc.
Coisas que gostava de ter dito e que invejo que outros tenham dito por mim:
Happiness is a terrible frail foundation on which to build any theory of life; and it seems to the plain man that happiness cannot be the ultimate goal because it has so often to be sacrificed for something better than itself. Virtue, or moral goodness, is too purely a human thing; and has to much the air of a means to an end beyond itself. Beauty is in things human and non-human, and seems almost omnipresent in the natural world. Now, if we ask Aristotle or Plato why a man should act righteously, or why he ought sometimes to sacrifice his happiness or to welcome martyrdom, they will answer, in a language which to a Greek is perfectly simple though possibly strange to us, that he should do so ἕνεκα τοῦ καλοῦ, "for the sake of the beautiful." (...) It is always a comfort to me that Shelley in his writings about poetry assumes as matter of course that there is beauty in human action and thought just as much as in a picture or a landscape. He does not see, as I confess I have never been able to see, though people have tried to point it out for me for forty years, any real difference between the moral and the aesthetic. And if we take the best-developed and most genuinely popular art of the present day, the novel, I think we shall find that it is predominantly interested and occupied in representing beauty and ugliness in the sphere of human character. There is no subject about which most of us have such keen perception and such strong feelings. I believe as a matter of fact, amid the immense variety of religious, moral and social beliefs in which we live, and the marked weakening of many of them, that the actual motive that works most genuinely among good men and women is this avoidance of the conduct which they feel to be ugly and this love of that which they feel to be "fair" or "decent" or "straight" or some other of those modest synonyms which in our shyness we use instead of the word "beautiful".
Gilbert Murray, The Classical Tradition in Poetry, Oxford University Press, 1937.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
As Shelley said
It follows that, whenever poetry is created, - and here we may use poetry to cover all forms of art, wherever poetry is created, it reveals beauty and in every place a special and different detail of beauty. It reveals, as Shelley said, the hidden beauty that is at the heart of existence.
Gilbert Murray, The Classical Tradition in Poetry, Oxford University Press, 1937.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Funchal
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design, violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo quando tiramos as roupas.
Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz, expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua estranha. "um homem não é uma ilha.." Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro se consegue ler.
Tomas Tranströmer
(Tradução do sueco para alemão por Hans Grössel)
Tradução do alemão para português por Luís Costa
Beauty
Beauty is a thing, or an element in things, that cannot be defined but only experienced. The Muses, when they attended the wedding feast of Peleus and Thetis, made a remark about it which seems to me not commonplace, but profound: Ὅτι καλὸν φίλον ἀεί: Beauty is that which when seen is loved. As an element in experience, it makes the whole experience precious.
Gilbert Murray, The Classical Tradition in Poetry, Oxford University Press, 1937.
You cannot
You cannot enter into the kingdom of poetry except by losing yourself. And you lose yourself in something which you contemplate, which you admire and love, which, as the Greek put it, ‘you imitate’ and seek to become one with.
Gilbert Murray, The Classical Tradition in Poetry, Oxford University Press, 1937.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
A oração do ateu
Ouve meu rogo Tu, Deus que não existes,
e em teu nada recolhe minhas queixas,
Tu que aos pobres homens nunca deixas
sem consolo de engano. Não resistes
a nosso rogo e nosso anelo vistes.
Quando de minha mente mais te aleixas,
mais recordo as histórias, as endeixas,
com que minha ama me adoçou noites tristes.
Que grande és Tu, meu Deus! Tu és tão grande
que és só Ideia; escassa é a realidade,
se o mais que pode ela se expande
para abranger-te. Por ti sofro, é verdade,
pois se existisses, Deus não existente,
também eu existiria veramente.
Miguel de Unamuno, Antologia Poética, José Bento (trad.), Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
e em teu nada recolhe minhas queixas,
Tu que aos pobres homens nunca deixas
sem consolo de engano. Não resistes
a nosso rogo e nosso anelo vistes.
Quando de minha mente mais te aleixas,
mais recordo as histórias, as endeixas,
com que minha ama me adoçou noites tristes.
Que grande és Tu, meu Deus! Tu és tão grande
que és só Ideia; escassa é a realidade,
se o mais que pode ela se expande
para abranger-te. Por ti sofro, é verdade,
pois se existisses, Deus não existente,
também eu existiria veramente.
Miguel de Unamuno, Antologia Poética, José Bento (trad.), Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
Pareceu
As longas tranças de Rechele estavam desfeitas, como as de uma bruxa , cheias de penas e de fios de palha. Metade do seu rosto estava vermelho, como se tivesse estado a repousar sobre ela, e a outra metade estava branca. Estava descalça, e trazia um vestido rasgado, através do qual era possível ver partes do seu corpo. Na mão esquerda trazia uma bilha, na mão direita, um espanador de pó onde era visível a presença de cinzas. Pelo meio do seu cabelo desgrenhado, um par de olhos inquietos sorria loucamente para ele. Pareceu a Itche Mates que havia aqui coisas mais complexas do que aquilo que o olhar podia ver.
Isaac Bashevis Singer, Satã em Goray, João Carlos Alvim (trad.), Ulisseia, 2011.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Fragmento 27 de Safo
<...>
Tu, criança em tempos,
anda daí, vem cantar estas melodias,
conversa connosco, concede-nos
a tua alegria
porque nos dirigimos a um casamento, e tu
bem o sabes, mas, o mais rápido que for possível,
manda as raparigas embora, tenham
os deuses
<...>larga estrada para o Olimpo
<...>para os homens
<...>
<...>
Tu, criança em tempos,
anda daí, vem cantar estas melodias,
conversa connosco, concede-nos
a tua alegria
porque nos dirigimos a um casamento, e tu
bem o sabes, mas, o mais rápido que for possível,
manda as raparigas embora, tenham
os deuses
<...>larga estrada para o Olimpo
<...>para os homens
<...>
<...>
Safo, versão minha, a partir da edição crítica de Eva-Maria Voigt (Amsterdão, 1971).
é ridículo ver o escritor
agigantar-se sobre o caderno.
a mínima brisa faz com
que as folhas se movam:
isto é uma metáfora.
aproxima-se depois um vulto
feminino e tem de
desviar o olhar. existe
também a preguiça
inexplicável: a vontade
parece uma amiga, mas contraria,
deixa-se caçar, para de seguida
voltar a fugir.
o escritor fica só perante a perplexidade
de tudo... mas é então
que se revolta e com isto,
ou muito menos, faz o poema.
Rui Tinoco, O Segundo Aceno, Edições Sempre-em-pé, 2011.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Fragmento 22, princípio
...
...
se não, inverno
sem dor
...
[αἰ δ]ὲ μή, χείμων[
[ ].οισαναλγεα.[
...
se não, inverno
sem dor
...
[αἰ δ]ὲ μή, χείμων[
[ ].οισαναλγεα.[
Safo (versão e selecção minha) sobre edição de Eva-Maria Voigt (Amsterdão, 1971) e seguindo a reconstrução apresentada por David Campbell (Cambridge, Massachusetts, 1982), baseada nos frgs. 12, 15 do P. Oxy. 1231.
(Às vezes assim, uma réstia de sentido nas ruínas, ou um novo sentido criado a partir do que está em ruínas.)
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Sinais
... e, com esse gesto apenas, deu prova de quanto havia em si de nobre, mostrando que o que existe de bom é digno, por si só, do nosso amor e dispensa que alguma coisa o recomende, porque traz em si todos os sinais para que o reconheçamos...
Fílon de Alexandria algures (versão minha).
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Duas epígrafes
Horváth: Brecht always liked people to be aware that they were in a theatre. I said to him: 'But Brecht, what makes you think they're anywhere else?'
Hampton
A strong song tows
us, long earsick.
Blind, we follow
rain slant, spray flick
to fields we do not know.
Bunting
Understanding, reason, learning, moral discrimination
It seems to me, then, that Gorgias is right that tragedy is essentially the emotional experience of its audience. Whatever it tells us about the world is conveyed by means of these emotions. Plato agreed with Gorgias in this, but he disapproved of the process and regarded it has harmful. Aristotle agreed with him to, but, contrary to Plato, regarded it as beneficial and salutary. Plato's objection was that such emotions are not the province of the highest part of the soul, the intelectual part. This is the forefather of the error made by so many later critics who have acknowledged the centrality of emotion in the communication of tragedy. They think that if tragedy is essentially an emotional experience, it must be solely that: and they think this because they assume that strong emotion is necessarily in opposition to thought, that the psychic activities are mutually exclusive. But is this right? Understanding, reason, learning, moral discrimination; these things are not, in my experience, incompatible with emotion (nor presumably in the experience of Gorgias and Aristotle): what is incompatible is cold insensibility. Wether or not emotion is inimical to such intellectual processes depends on the circumstances in which it aroused.
Oliver Taplin, "Emotion and Meaning in Greek Tragedy", Oxfords Readings in Greek Tragedy, Erich Segal (ed.), Oxford University Press, s.d.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Tiraste-me as palavras da boca
Durante muito tempo fui um solitário entre milhares. Agora, há milhares de coisas que posso partilhar: a vista de um telhado velho e enrugado, um ninho de andorinhas na casa de banho do Hotel Savoy, o olhar irritante e esbugalhado do velho do homem do elevador, a amargura do sétimo andar, a tristeza lúgubre de um nome grego, uma gramática que, de repente, se torna viva, a triste lembrança do terrível aoristo, da pequena casa materna, do pesado e ridículo de Febo Böhlaug e Alexandre a quem as bagagens salvaram a vida. As coisas vivas tornaram-se mais vivas, e mais odiosas as que, em comum, tínhamos odiado, o céu estava mais perto e a terra submissa.
Joseph Roth, Hotel Savoy, José Sousa Monteiro (trad.), D. Quixote, Lisboa, 1991.
Joseph Roth, Hotel Savoy, José Sousa Monteiro (trad.), D. Quixote, Lisboa, 1991.
esfera
uma daquelas
esferas de vidro
em negativo
a mão fechou-se sobre ela
fê-la girar
neve a fingir
caiu sobre meninos bonecos
tingiu-lhes as roupas
entrou por portas escancaradas
de casas mínimas
com os seus telhados alinhados
castanhos
taciturnos
uma cidade vista de uma encosta
daquelas que avistamos
ao chegar ao topo de uma colina
gritamos uns pelos outros
o mais alto que podemos
somos
só
feridos pelo nosso próprio eco
a mão ao de leve
puxou uma pena do casaco
tentaste sair pela porta do quintal
o cão guardou a tua sombra
não te denunciou
deixou que passasses
semicerrando os olhos
encolhendo a cabeça entre as patas
assim entras na casa a horas tardias
e sais sem que ninguém te note
levas no bolso
cartas que ainda te enviam
livros que não queres que fiquem aí
o teu próprio eco
atravessa esses lugares
a tua cabeça
emerge numa janela
observa-te disfarçadamente
estas coisas
as palavras confinam-nas
alojam-nas
em caixas
em folhas de papel
pisadas por uma pedra
em que alguém desenhou
delicada borboleta
um desenho de repente pesa-nos
asas azuis
insecto preso
uma cidade presa
feita
que imita outra coisa
virando a esfera
cairá sobre ela neve
um homem de olhos amendoados
escalará a muralha
espiará a tua cidade mínima
da colina
com um arco fará pontaria
aos teus meninos de brinquedo
que brincam na rua
um rapaz espiando-o de um ponto mais acima
forçá-lo-á a adormecer
tombar na lama
com o arremesso de uma pedra escura
o melhor batedor dos yankees
e o seu corpo imenso tombará entre a neve que cai
um vento gelado
agitará ao de leve os seus cabelos
um fio vermelho muito escuro
correrá no chão castanho e branco
de entre os ramos um falcão solta-se
sai da esfera
vem pousar no teu punho
uma maçã apodrecida
tomba
pálpebra que se fecha
na terra
ao longe adivinhas
o murmurar do poço
o balde que sobe
puxado por uma roldana que chia
as coisas estão ligadas
presas pelo fio da narrativa
adivinhas o seu passar silencioso
no alpendre
escutas passos
que se aproximam
procuras
dentro da água escura
dos seus olhos
o teu reflexo
procuras puxá-lo
desse precipício
com a força dos braços
e ele resvala
é o falcão pousado
no punho
o leal embaixador da corte
que te trouxe
em segredo
uma mensagem importante
as histórias
por vezes
são isto
tentas ver-te
no nevoeiro
puxar-te
por uma corda ténue
o teu peso sustentado
por uma roldana que o tempo
fez perra
enferrujou
uma corda que é o último laço
cujo peso nunca saberás
se poderá ser sentido
no teu pescoço
a esfera quebrada no chão
cidade pesada na noite
a neve contra a janela
o corpo corda suspensa
da sua arte de silêncios
Tatiana Faia
esferas de vidro
em negativo
a mão fechou-se sobre ela
fê-la girar
neve a fingir
caiu sobre meninos bonecos
tingiu-lhes as roupas
entrou por portas escancaradas
de casas mínimas
com os seus telhados alinhados
castanhos
taciturnos
uma cidade vista de uma encosta
daquelas que avistamos
ao chegar ao topo de uma colina
gritamos uns pelos outros
o mais alto que podemos
somos
só
feridos pelo nosso próprio eco
a mão ao de leve
puxou uma pena do casaco
tentaste sair pela porta do quintal
o cão guardou a tua sombra
não te denunciou
deixou que passasses
semicerrando os olhos
encolhendo a cabeça entre as patas
assim entras na casa a horas tardias
e sais sem que ninguém te note
levas no bolso
cartas que ainda te enviam
livros que não queres que fiquem aí
o teu próprio eco
atravessa esses lugares
a tua cabeça
emerge numa janela
observa-te disfarçadamente
estas coisas
as palavras confinam-nas
alojam-nas
em caixas
em folhas de papel
pisadas por uma pedra
em que alguém desenhou
delicada borboleta
um desenho de repente pesa-nos
asas azuis
insecto preso
uma cidade presa
feita
que imita outra coisa
virando a esfera
cairá sobre ela neve
um homem de olhos amendoados
escalará a muralha
espiará a tua cidade mínima
da colina
com um arco fará pontaria
aos teus meninos de brinquedo
que brincam na rua
um rapaz espiando-o de um ponto mais acima
forçá-lo-á a adormecer
tombar na lama
com o arremesso de uma pedra escura
o melhor batedor dos yankees
e o seu corpo imenso tombará entre a neve que cai
um vento gelado
agitará ao de leve os seus cabelos
um fio vermelho muito escuro
correrá no chão castanho e branco
de entre os ramos um falcão solta-se
sai da esfera
vem pousar no teu punho
uma maçã apodrecida
tomba
pálpebra que se fecha
na terra
ao longe adivinhas
o murmurar do poço
o balde que sobe
puxado por uma roldana que chia
as coisas estão ligadas
presas pelo fio da narrativa
adivinhas o seu passar silencioso
no alpendre
escutas passos
que se aproximam
procuras
dentro da água escura
dos seus olhos
o teu reflexo
procuras puxá-lo
desse precipício
com a força dos braços
e ele resvala
é o falcão pousado
no punho
o leal embaixador da corte
que te trouxe
em segredo
uma mensagem importante
as histórias
por vezes
são isto
tentas ver-te
no nevoeiro
puxar-te
por uma corda ténue
o teu peso sustentado
por uma roldana que o tempo
fez perra
enferrujou
uma corda que é o último laço
cujo peso nunca saberás
se poderá ser sentido
no teu pescoço
a esfera quebrada no chão
cidade pesada na noite
a neve contra a janela
o corpo corda suspensa
da sua arte de silêncios
Tatiana Faia
domingo, 2 de outubro de 2011
Les elfes, Leconte de Lisle
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Du sentier des bois aux daims familier,
Sur un noir cheval, sort un Chevaler.
Son éperon d’or brille en la nuit brune;
Et lorsqu’il traverse un rayon de lune,
On voit resplendir, d’un reflet changeant
Sur sa chevelure un casque d’argent.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Ils l’entourent tous d’un essaim léger
Qui dans l’air muet semble voltiger.
Hardi! Chevalier par la nuit sereine,
Oú vas-tu si tard, dit la jeune reine
De mauvais espirits hantent les forêts;
Viens danser plutôt sur les gazons frais.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Non! ma fiancée aux yeux clairs et doux,
M’attend et demain nous serons époux.
Laissez moi passer, Elfes des prairies,
Qui foulez en rond les mousses fleuries;
Ne m’attardez pas loin de mon amour,
Car voici déjá les lueurs du jour.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Reste chevalier. Je te donnerai,
L’Opale magique et l’anneau doré,
Et, ce qui vaut mieux que gloire et fortune,
Ma robe filée au clair de la lune.
Non! dit-il. Et de son doigt blanc
Elle touche au coeur le guerrier tremblant.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Et sous l’éperon, le noir cheval part.
Il court il bondit et va sans retard;
Mais le chevalier frissonne et se penche;
Il voit sur la route une forme blanche
Qui marche sans bruit et lui tend les bras;
- Elfe, esprit, démon, ne m’arrête pas –
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
- Ne m’arrête pas, fantôme odieux!
Je vais épouser ma belle aux doux yeux.
O mon cher époux, la tombe éternelle
Sera notre lit de noce dit-elle.
Je suis morte! Et lui la voyant ainsi
D’angoisse et d’amour tombe mort aussi.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Du sentier des bois aux daims familier,
Sur un noir cheval, sort un Chevaler.
Son éperon d’or brille en la nuit brune;
Et lorsqu’il traverse un rayon de lune,
On voit resplendir, d’un reflet changeant
Sur sa chevelure un casque d’argent.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Ils l’entourent tous d’un essaim léger
Qui dans l’air muet semble voltiger.
Hardi! Chevalier par la nuit sereine,
Oú vas-tu si tard, dit la jeune reine
De mauvais espirits hantent les forêts;
Viens danser plutôt sur les gazons frais.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Non! ma fiancée aux yeux clairs et doux,
M’attend et demain nous serons époux.
Laissez moi passer, Elfes des prairies,
Qui foulez en rond les mousses fleuries;
Ne m’attardez pas loin de mon amour,
Car voici déjá les lueurs du jour.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Reste chevalier. Je te donnerai,
L’Opale magique et l’anneau doré,
Et, ce qui vaut mieux que gloire et fortune,
Ma robe filée au clair de la lune.
Non! dit-il. Et de son doigt blanc
Elle touche au coeur le guerrier tremblant.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
Et sous l’éperon, le noir cheval part.
Il court il bondit et va sans retard;
Mais le chevalier frissonne et se penche;
Il voit sur la route une forme blanche
Qui marche sans bruit et lui tend les bras;
- Elfe, esprit, démon, ne m’arrête pas –
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
- Ne m’arrête pas, fantôme odieux!
Je vais épouser ma belle aux doux yeux.
O mon cher époux, la tombe éternelle
Sera notre lit de noce dit-elle.
Je suis morte! Et lui la voyant ainsi
D’angoisse et d’amour tombe mort aussi.
Couronnés de Thym et de Marjolaine,
Les Elfes joyeux dansent sur la plaine.
sábado, 1 de outubro de 2011
Poetry
I, too, dislike it: there are things that are important beyond
all this fiddle.
Reading it, however, with a perfect contempt for it, one
discovers in
it after all, a place for the genuine.
Hands that can grasp, eyes
that can dilate, hair that can rise
if it must, these things are important not because a
high-sounding interpretation can be put upon them but because
they are
useful. When they become so derivative as to become
unintelligible,
the same thing may be said for all of us, that we
do not admire what
we cannot understand: the bat
holding on upside down or in quest of something to
eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless
wolf under
a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
that feels a flea, the base-
ball fan, the statistician--
nor is it valid
to discriminate against "business documents and
school-books"; all these phenomena are important. One must make
a distinction
however: when dragged into prominence by half poets, the
result is not poetry,
nor till the poets among us can be
"literalists of
the imagination"--above
insolence and triviality and can present
for inspection, "imaginary gardens with real toads in them,"
shall we have
it. In the meantime, if you demand on the one hand,
the raw material of poetry in
all its rawness and
that which is on the other hand
genuine, you are interested in poetry.
all this fiddle.
Reading it, however, with a perfect contempt for it, one
discovers in
it after all, a place for the genuine.
Hands that can grasp, eyes
that can dilate, hair that can rise
if it must, these things are important not because a
high-sounding interpretation can be put upon them but because
they are
useful. When they become so derivative as to become
unintelligible,
the same thing may be said for all of us, that we
do not admire what
we cannot understand: the bat
holding on upside down or in quest of something to
eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless
wolf under
a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
that feels a flea, the base-
ball fan, the statistician--
nor is it valid
to discriminate against "business documents and
school-books"; all these phenomena are important. One must make
a distinction
however: when dragged into prominence by half poets, the
result is not poetry,
nor till the poets among us can be
"literalists of
the imagination"--above
insolence and triviality and can present
for inspection, "imaginary gardens with real toads in them,"
shall we have
it. In the meantime, if you demand on the one hand,
the raw material of poetry in
all its rawness and
that which is on the other hand
genuine, you are interested in poetry.
Marianne Moore, Observations, The Dial Press (New York), 1924, pp. 30-1.
E isto, senhores, é a minha ética poética.
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